Até aqui, estudamos by @oatila

Até aqui, estudamos a imunidade de quem se curou da COVID-19 olhando pra anticorpos, um tipo de defesa. Um estudo que saiu hoje olha pra defesa celular (linfócitos T) e dá resultados bem animadores e ao mesmo tempo um pouco preocupantes. Segue o fio explicando.


Anticorpos são um tipo de defesa imune. São proteínas que reconhecem e se ligam na superfície dos alvos, como na proteína S do coronavírus que faz os espinhos da coroa que dá o nome dele. Como ficam no sangue, são mais detectáveis, eles são os IgG e IgM do teste rápido.


Eles são feitos por um tipo de célula do sistema imune, os linfócitos B (de Bone Marrow, a medula óssea, onde nascem). São a defesa que mais checamos na produção de vacinas. Pq é muito importante e pq são mais fáceis de medir. Mas nem todo mundo que pegou COVID produz muito.


Tem um outro tipo de defesa que pode ser bem importante pro corpo responder a vírus, os linfócitos T (de timo, onde amadurecem). Linfócitos T também reconhecem proteínas de invasores, mas a defesa deles é reconhecer e destruir células infectadas que tão fazendo essas proteínas.


Os assintomáticos controlam o vírus mesmo sem fazer muitos anticorpos. O que é mais um sinal de que a outra resposta, de resposta de linfócitos T, pode ser importante na COVID. Como a @TaschnerNatalia já tinha cantado. Este estudo mediu justamente isso:

https://www.nature.com/articles/s41586-020-2550-z


Resposta por células T pode ser importante não só por atacar bem células infectadas por vírus, mas também por ser mais durável no coronavírus. Os anticorpos contra SARS em quem se curou caem muito depois de 2-3 anos. Já células T ainda foram detectáveis 11 anos depois.


Entre outras coisas, viram que a resposta feita por células T em pessoas que pegam COVID ataca a proteína mais produzida (ORF-1) que tem regiões bastante parecidas entre vários coronavírus. Ou seja, a resposta contra um coronavírus pode funcionar contra outros. Foi o que viram.


Compararam quem se curou de SARS com quem se curou de COVID. E viram que mesmo quem se curou de SARS há 17 anos ainda tem uma resposta imune pronta contra o SARS-CoV-2 da COVID. Viram inclusive que quem se curou de outros coronavírus de resfriados também tinha boa resposta.


Os resultados são animadores individualmente porque mostram que a resposta contra coronavírus pode ser duradoura, o que quer dizer que mesmo se a pessoa se infectar de novo, pode ser mais leve pq o corpo já tá preparado. E que pode ser fácil de despertar com uma vacina.


Como essa resposta de linfócitos T parece ser mais genérica, pode ser que uma vacina continue imunizando contra o coronavírus mesmo se ele mutar conforme se espalha. Seria uma vacina mais durável que a da gripe, que tem que ser atualizada todo ano.


São um pouco preocupantes pq se a resposta por células T é mais importante e mais comum do que anticorpos, pode ser que o sistema respiratório de curados continue vulnerável ao vírus. Pode ainda peguem COVID de novo, mesmo que mais leve, e passem pra outras pessoas.


Também não sabemos se essa resposta é protetora ou piora a infecção, como acontece com a dengue. Essa ainda é uma pergunta completamente em aberto na COVID, mas tão importante que logo mais deve ter resposta.

Apoio @iserrapilheira 🙂


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