Esperava que, em algum momento, a página da @rafakalimann_ se posicionasse contra a divulgação em massa das fotos dela com crianças africanas nas redes sociais, mas fizeram pior: divulgaram um vídeo. Então vamos lá: obs: não sou contra ações voluntárias, mas como ela é feita+


Como nigerino/africano, me incomoda muito ver usarem a "síndrome do branco salvador" como estratégia, nesse caso, para ganhar o #BBB2020. Não apenas eu, mas milhões de africanos que recebem, de coração aberto, turistas/missionários/intercambistas em suas cidades. +


Conversando com gestor de uma ONG em Camarões essa manhã sobre isso, ele disse o seguinte: +


"é assim msmo irmão, dizem q é a "viagem dos sonhos". Juram, em nome de DEUS, que as fotos não serão divulgadas, é para "recordação". Quando descobrimos que as fotos estão em redes sociais e pedimos q sejam excluídas, somos bloqueados. As famílias ficam muito constrangidas." +


Nessas fotos, geralmente, não há contexto, não se sabe quem é a criança, se houve consentimento dos responsáveis legais para que elas apareçam nas fotos. Só se sabe que há um “herói”, no caso, a pessoa branca, "alvandora“ da coitada África. +


"salvadora"*


Falando em África, estamos cansados de dizer que ela não é um país, mas parece que a ignorância e o mau-caratismo impedem as pessoas de enxergarem isso. Pesquisam, é verdade mesmo, ela não é um país. +


África é o terceiro continente mais extenso do mundo, com 54 países. Por exemplo, ela é muito maior que a América Latina. +


Então, é um exagero usar fotos de crianças alegando que a Rafa vai ajudar a "África". Por exemplo, é como se a Rafa fosse fazer um projeto missionário no bairro que ela nasceu, em Campina Verde-MG, e dizer que ela está ajudando a América Latina. +


Sobre a "Síndrome do salvador branco", porque devemos lutar contra? Vou citar apenas alguns motivos: +


1. Assim como a Rafa, a maioria são jovens na faixa etária de 30 anos. Muitos não possuem conhecimentos mínimo sobre os processos culturais, educacionais e antropológicos de comunidades de países africanos. +


2. Levam abordagens e metodologias, eurocêntricas, enraizadas na caridade condescendente, perpetuando a imagem estereotipada de que a África é um país de coitadinhos que precisa de ajuda. Mais ou menos aquilo que os colonizadores fizeram no passado. +


3. Impedem que a "missão", a ajuda e o trabalho desenvolvido sejam dialógicos e participativos. Os chamados "missionários" entram em cena com suas respostas e conhecimentos e deixam de incluir as vozes dos líderes, organizações e partes interessadas locais.+


4. Perpetuam a pornografia da pobreza: imagens de crianças vistas em campanhas de arrecadação de fundos objetivam-nas a fim de obter uma resposta emocional para conseguir doações. Rotulam-nas como vítimas impotentes que não podem se ajudar, esperando o resgate e a salvação.+


Devemos parar de divulgar fotos de crianças que não sabemos seus nomes, local de nascimento, como eles vivem no dia-a-dia. Divulgar sem consentimento dos responsáveis é imoral, indecente e criminoso.


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