"CUIDADO! CONSERVADOR NÃO FAZ REVOLUÇÃO" A sentença já virou um chavão na baixa retórica pseudoconservadora, repetido irrefletidamente por uma manada de neófitos passionais e miméticos, enfatuada de fingimento intelectual, representando os campões da Direita à brasileira.


Alguns já tiverem a presunção de me dar uma lição com o aforismo de Russell Kirk gravado em meu perfil. Ora, antes de raciocinarem por escritos abstratos, passando vergonha e agindo como dogmáticos verbais e antirrealistas, é preciso dominarem a linguagem dos conceitos.


Percebe-se que diante de qualquer advertência, cobrança e reprovação aguda e independente contra o Governo, direitistas emocionalmente imaturos e intelectualmente rasos, reagem como um impulsivo fanático e atiram textos sem contexto, em clara linguagem sectária de não-pensamento.


O conceito moderno de Revolução, pós-Revolução Francesa, fortalecido por Marx e enfatizado por Arendt, não guarda relação com o conceito anterior da Revolução Americana (da Independência) e Gloriosa (Puritana), que tiveram em verdade a conotação de Rebelião, em vez de Revolução.


É dizer, um grupo de insatisfeitos com o rumo tomado pela autoridade constituída se rebelara contra, em busca de um processo de restauração da ordem ou mesmo pela tomada do poder. Diferentemente da Revolução, a Rebelião não há o fim gnóstico de reinvenção da sociedade e Estado.


A revolução é a proposta dedutiva e salvacionista envolta de uma ideologia (teoria de gabinete) encampada por um grupo iluminado que exerce uma força central em função de uma autoridade autoconferida para destruir e depois reconstruir tudo conforme a utopia ideológica.


O conceito de revolução não tem a ver com a atitude firme na defesa dos seus ideais, como alguns neófitos conservadores estão a enfatizar. Alguns que pensam por palavras, não por referências reais, até sugerem indiretamente que o colaboracionismo é uma virtude do conservador.


Os conceitos de rebelião, insurreição (ou insurgência), conjuração (ou conspiração) e conluio são conceitos de Revoltas Populares na Ciência Política, que guardam relação de grau e conteúdo entre si, mas que diferem essencialmente do conceito moderno de revolução.


Esse vício de raciocínio é por causa da iletrada e superficial Direita brasileira, representada pela tradição militar e por uma gama de despreparados que reduzem a política à tecnocracia positivista, ao culto à personalidade, ao senso de pertencimento e ao inimigo escolhido.


Em vez do devida devoção e entendimento de preservação (ou restauração) das origens e tradições da sua nação, o que configura o conservadorismo de fato, hoje macaqueiam os mesmos cacoetes da tradição positivista à brasileira, que só veio a oportunizar o crescimento da Esquerda.


Os bolsonaristas que se autodeclaram "não-revolucionários" continuam no amador erro de construir uma "Direita" - como opositores simbólicos da Esquerda - de espírito leniente e colaboracionista aos ideais da Esquerda, erro que é interpretado desde os modernistas do Golpe de XV.


O erro de que o "direitista ou conservador não pode ser revolucionário" (leia-se, fiel e leal a seu sistema de princípios morais e tradições nacionais), mas apenas a Esquerda, produz à medida do tempo uma consciência amoral, materialista, estritamente partidária e personalista.


Quando se reduz o espectro da Direita à passividade tecnocrata no embate político, motivada por essa falsa postura de sofisticação intelectual, só fornece o vácuo para a formação da hegemonia socialista predominar na cultura como todo, sobretudo no debate político e estudantil.


A tática da Esquerda sempre foi essa. A violência verborrágica, até física, dos movimentos socialistas muitas vezes não visa atingir o fim teórico declarado; mas sim tornar legítimo e tolerável as absurdidades que apregoam, conquistando a timidez e a omissão dos opositores.


A finalidade de toda guerrilha é minar, conquistar, formar e controlar a mentalidade e o comportamento do adversário. A FARC, p. ex., não tomou o poder na Colômbia, e nem queria ao fim. Ela queria conquistar a legitimação de seus ideais e aceitação do grupo como partido político.


A tática revolucionária (na real acepção da palavra), pela guerra assimétrica e dialética hegeliana, é impor espiritualmente ao adversário que ele tolere as suas exigências, legitimando-as democraticamente, para que o absurdo seja moralmente aceito e discutido em praças públicas.


Enquanto isso, o discurso conservador é relativizado, reputado como subpolítica, depois, criminalizado ao passar do tempo. Os "direitistas" de maneirismos omissivos são moldados pelo processo mental da Janela de Overton, servindo-se como opositores permitidos e idiotas úteis.


Isso é tão verdade que os próprios generais denunciam a sua falta de instrução em filosofia política quando abrem suas bocas: são produtos exemplares da hegemonia cultural gramsnciana, ao considerarem o Conservadorismo como ideologia e um corpo estranho na política brasileira.


São idiossincrasias terrivelmente perigosas. O Conservadorismo não é uma ideologia, no sentido real de Destutt de Tracy: um arcabouço dogmático, construtivista e dedutivo de proposta de Estado. É uma ética empírica e indutiva segundo as tradições originalmente nacionais.


Não à toa que hoje se presencia autonomeados "conservadores" nesse embalo, já se conformando com as decisões medonhas que criam e fortalecem as medidas totalitárias, os ideais "progressistas" e as regulações globalistas, que só estão a fortalecer a condição neocolonial do Brasil.


Inclusive, alguns bolsonaristas comemoraram bestialmente a sanção presidencial da última lei feminista, motivados pela satisfação primitiva e infantil do Jair ter contrariado à narrativa de Esquerda como machista. Eis o exemplo crasso dos idiotas úteis pagando pedágio à Esquerda.


A verdade é que o Conservadorismo é para alguns uma questão meramente simbólica e estética, um instrumento de linguagem política de fácil identificação para se opor ao lulopetismo. No momento da luta política, só interessa a disputa por predileções de grupo e personalidades.


Como disse o Olavo, no Brasil não há ideias, há apenas candidatos. A nação já nunca foi prioridade. Pudera! O Brasil é uma República cujo objeto principal é a corrida belicosa pelo poder. Não há consciência de nação e missão restauracionista, mas paixões e afirmações partidárias.


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