Bolsonaro precisa vencer a eleição. Prega tanto o extermínio do outro, que imagina que farão o mesmo com ele, se perder. Quando se sente acuado, radicaliza. Crê que criar um ambiente caótico de conturbação lhe dará chance de virar a mesa e escapar do perigo.


Ocorre que esse comportamento é eleitoralmente contraproducente. O ambiente permanente de caos afasta de Bolsonaro o eleitor mediano, que quer segurança. Não dá para um presidente terceirizar a culpa. O eleitor identifica nele o fator de instabilidade e prefere removê-lo.


Criar um ambiente de caos aproxima da derrota Bolsonaro e todos os que estão na sua canoa. O golpe como meio de restabelecer a paz não está ao seu alcance. Nenhum golpista com recursos os confiaria a um político com o perfil fraco e desequilibrado de Bolsonaro.


A criação de um ambiente insuportável e caótico de conturbação, armando gente, difundindo desconfiança, jogando uns contra os outros, não é, portanto, meio de vitória eleitoral, nem de golpe. É meio para obrigar os outros a encontrarem uma saída para ele.


A principal aposta passa por explorar o inconformismo de alguns militares contra os ministros do Supremo, por terem devolvido os direitos políticos a Lula. Aposta que, engrossada na rua pelo eleitorado fascistóide, a intimidação obrigará Moraes a deixá-lo escapar impune.


Simulação de força é a peça fundamental para que a máquina de intimidação de Bolsonaro funcione. A aparência é que importa. Aparência de popularidade, de capacidade de mobilização, de derrubar todos os limites à sua vontade e de adesão incondicional das forças armadas à sua ação.


Daí o desespero contra os militares que dizem não haver perigo de golpe. Da divulgação de pesquisas indicando sua derrota no primeiro turno. Do noticiário negativo sobre economia. Tudo isso reduz a percepção de força indispensável para impor ou negociar com os outros uma saída.


Sem saída, incapaz de conceber outra ação, Bolsonaro redobra então a aposta na criação do ambiente de caos e subversão da ordem, e assim sucessivamente, na expectativa de que a situação se torne tão crítica que force o surgimento de uma saída. Mas o tempo corre contra ele.


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