Imagine que você acorde, vá tomar café em algum lugar, peça um suco de laranja e receba uma caneca de ovomaltine. Vc reclama e o atendente diz: hoje nesse estabelecimento nós chamamos ovomaltine de suco de laranja. Vc fica contrariado, mas aceita. No outro dia vc volta 1/10


e pede um suco de laranja para receber um ovomaltine, mas chega um kombucha. Impaciente, vc diz que não pediu isso, e o atendente explica que hoje suco de laranja significa kombucha. Chateado, vc pede pelo menos uma colher e açúcar, mas chega um garfo e pimenta. O atendente 2/10


explica que HOJE o estabelecimento identifica colher como garfo e açúcar como pimenta. Acho que deu pra pegar a ideia. A linguagem não é aleatória, ela serve para ancorar as pessoas em uma realidade comum OBJETIVA. É o que ensina a lenda de Babel e tantos outros mitos. 3/10


Uma sociedade, aliás, a mera comunicação entre dois humanos só é possível pq nós atrelamos as palavras a certos objetos, condutas, situações e sentimentos. Se alguém pega uma fruta e pergunta se pode comer e eu digo que é saborosa, querendo dizer que é venenosa, a pessoa 4/10


irá comer e morrer, pq nós não estabelecemos um mundo comum entre nós. A linguagem NÃO PODE depender de um indivíduo ou um grupo a ponto de vc ter que se atualizar diariamente sobre o significado de alguma coisa. Isso é a destruição da sociedade e da comunicação. Não importa 5/10


se alguém se sente ofendido pela objetividade do termo. A função da língua é comunicar, e ela é construída ao longo de séculos, milênios, muitas vezes se apartando do significado original, como a palavra trabalho. O subjetivismo pessoal, ou seja, “isso me ofende”, não 6/10


interessa para a comunicação. Não se pode destruir todo um mundo comum objetivo construído validamente pq alguém se sente ofendido com uma palavra que muitas vezes sequer tem a origem que o sofrido quer dar a ela. O fascismo usou a linguagem para impor seu ideário. 7/10


Gramsci propôs isso pra imposição do socialismo. LTI - Lingua Tertii Imperii (Victor Klemperer) é um livro que aborda como o nazismo alterou a linguagem para impor seu ideal. Klemperer sobreviveu à IIGM, mas ao ingressar no partido comunista na Alemanha oriental notou 8/10


como o regime comunista aplicava as mesmas técnicas de comunicação nazi. As pessoas facilmente se adaptam às mudanças de linguagem “como pequenas doses de arsênico”, diz Klemperer, até que chega um dia em que tudo eclode. A linguagem é a via mais fácil para dominar um povo. 9/10


Ela afeta todos os aspectos do cotidiano. Uma comunicação não violenta e clara é importante. Afundar-se num pântano de subjetivismo com certos grupos impondo a outros uma língua cujas palavras mudam diariamente não é comunicação,é opressão totalitária e não pode ser aceita. 10/10


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