A gente não consegue olhar as coisas em contexto porque a gente está vivendo elas, mas a história do Lula e o seu arco de redenção são algo muito fora da curva, assim como é fora da curva ele ir no Jornal Nacional, que tantas vezes o defenestrou, e agir com a civilidade que agiu


Lula foi um dos grandes estadistas da primeira década do século XXI e se tivesse aposentado ali já seria um grande personagem histórico. Mas saiu do cargo, fez sucessora, venceu um câncer, foi vítima de uma perseguição judicial, viu sua sucessora ser retirada do poder, foi preso


Não fugiu, não convocou “guerra santa”, não desestabilizou o país. Esperou pacientemente uma justiça improvável. Vou um fascista ser eleito presidente e o juiz que foi seu algoz virar ministro desse fascista. Viu gravações vazarem e provarem que havia um conluio pra condená-lo.


Foi solto, mas ainda não tinha sido inocentado. Viu o presidente fascista condenar milhares à morte numa pandemia enquanto ele era alijado da discussão política no país, mesmo com todo o seu legado. Finalmente foi inocentado pela justiça, com o juiz sendo considerado parcial


Se alguém podia voltar ressentido, era o Lula. Ele podia simplesmente falar “vocês me ferraram e agora vocês vão ver”. Mas não: volta ainda mais conciliador, a ponto de arrumar uma aliança com o Alckmin, e faz questão de conversar com um monte de gente que apoiou sua perseguição


Daí chega no Jornal Nacional e faz todo um discurso de conciliação, de juntar as pessoas, de vencer o ódio. Você pode achar mentira ou demagogia, pode ter críticas ao Lula, pode apontar os erros dele, mas uma coisa é inegável: é a História sendo escrita diante de nossos olhos.


E todo esse cenário ainda é agravado pelas perdas que o Lula teve quando estava sendo perseguido: a Marisa, o seu irmão Vavá (ele não pôde nem ir no velório), seu neto. Lula tinha todos os motivos do mundo pra ser amargurado. Mas não, se reconstruiu e vai reconstruir o Brasil.


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